⏳ Quando o Tempo Acelera por Dentro e a Alma Pede Para Ser Vista
- iscarolferreira
- 1 de ago.
- 2 min de leitura
"Há um tipo de dor que não grita. Ela se apresenta em forma de pressa, de urgência interna, de uma sensação sutil de que a vida está passando — e que, se eu não for rápida o suficiente, algo essencial vai me escapar.
Essa urgência não nasce no agora. Ela é antiga.
Começou talvez na infância quando eu demorava um pouco mais para entender as lições. O mundo parecia já saber de tudo — menos eu. Alguém, com sua impaciência silenciosa, plantava a ideia de que meu tempo era "lento demais". Demorar para entender virava motivo de piada. Me sentir atrasada virava um traço de identidade.
Ser rápida passou a ser sobrevivência.
Na vida adulta, essa urgência se disfarça de produtividade. De paixão repentina. De relacionamentos intensos demais, onde tudo acontece rápido — menos a parte que realmente importa: ser vista, ser reconhecida, ser apresentada. Ser escolhida publicamente.
Me envolvo. Me dou. Me coloco. E quando percebo, estou mais uma vez dentro da cena: ele vive no tempo dele, e eu tentando não ultrapassar o meu. Ele esconde, disfarça, adia.
E eu sinto a velha dor de novo: a dor de não ser levada com ele ao mundo.
Quando há um evento importante e eu não sou convidada, não é apenas sobre um convite. É sobre não caber na narrativa dele. É sobre ser importante em silêncio, mas invisível no social. É sobre o "quase" de sempre — aquele limbo entre intimidade e exclusão. E ainda assim, eu fico.
Fico porque aprendi que meu amor é paciente. Mas também fico porque ainda estou aprendendo que meu valor não depende da velocidade nem do reconhecimento externo".
Na psicanálise, vamos entendendo que o trauma nem sempre vem do grito — às vezes vem da ausência:
Do olhar que não veio.
Do lugar que nunca foi dado.
Da espera que se arrasta enquanto o outro caminha devagar, como se não soubesse que a gente está carregando o mundo do lado de cá.
Hoje eu me olho com mais compaixão. Entendo minha aceleração interna como um mecanismo de defesa. E compreendo que é possível amar alguém e, ao mesmo tempo, não se deixar apagar no tempo dele.
O verdadeiro encontro não acontece quando o outro me mostra ao mundo — mas quando eu me mostro a mim mesma, com coragem. E permaneço.
Mesmo que o outro não esteja pronto. Mesmo que o tempo não seja ideal. Mesmo que o amor tenha suas pausas.
Porque agora, mais do que pressa, eu quero presença. E não a presença do outro, mas a minha própria presença — inteira, madura, intensa, verdadeira.
E talvez...Talvez seja assim que a cura comece: não quando o outro me leva, mas quando eu decido ficar — comigo.
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Esse texto é extremamente sensível, profundo e potente ele traz uma leitura psicanalítica do sofrimento que nasce da falta, da exclusão simbólica e do trauma silencioso.
Ele pode ser interpretado como uma representação do que, em termos psicanalíticos, Freud chamaria de experiência primária de desamparo, que se atualiza nas relações amorosas adultas. Já Lacan poderia nos ajudar a pensar a partir do conceito de falta-a-ser e do desejo do Outro: o sujeito se constitui no campo do desejo, e o tempo da sua subjetivação é, muitas vezes, atravessado por esse sentimento de urgência que não é cronológico, mas simbólico.
A ausência de nomeação (“o lugar que nunca foi dado”) remete ao que Lacan chamou de falta de inscrição no campo…